O domingo (24) reservou-me uma surpresa inesperada. Digo dessa forma porque no meio da pandemia da Covid-19 eu não me pego falando com muitas pessoas regularmente. Na verdade, tenho me mantido reservado. Telefonemas mesmo eu troco com não mais do que três ou quatro pessoas nesses dias.
Mas vamos à boa surpresa: ocorre que uma doce criatura que conheci há alguns anos aqui em São Paulo me enviou uma mensagem pelo messenger do Facebook. Faz mais ou menos dois anos que ela deixou a capital paulista de volta à sua terra natal, no nordeste.
Lá atrás eu a conheci porque incumbi a ela cuidar das minhas mãos – não sou competente para cuidar delas ou mesmo dos meus pés. Daí que, não suportando mais as dores e incômodos, terceirizei e a minha situação ficou melhor porque sou um dos poucos sujeitos do mundo que encrava as unhas das mãos e dos pés num curtíssimo período de tempo. Nesses aspecto puxei à minha avó paterna, que tinha unhas de bruxa, muito embora exalasse doçura.
Vamos ao messenger: o caso é que recebi uma foto de algumas garrafas de Stella Artois vazias seguida da mensagem:
“Lembrei de você”.
Fiquei lisonjeado, confesso. Era a última pessoa que devia ter qualquer motivo para me ter em suas memórias. Quando a conheci ela que já tinha um filho. Agora tem dois. Não fez menção ao pai de um e de outro, ainda que indagada sobre.
Como registrei acima, ela vive no Sergipe e lembrou deste velho cidadão ao bebericar da cerveja que eu sempre lhe recomendara – e que hoje em dia nem bebo mais.
Cobrei um prometido Malibu que ela ficou de me presentear – e que nunca chegou – das unhas dos pés que ela não conseguiu cuidar e insistia, diante de tanto sangue, que eu devia procurar uma podóloga.
Lembramos da Stellinha e de quantas vezes ela fugiu de mim como peixe ensaboado indo ao Centro de Tradições Nordestinas (CTN), aqui na capital paulista, sem antes fazer um aquecimento aqui em casa.
Enviei fotos da minha nova cerveja preferida, a Beck’s, que ela disse que não chegou no Sergipe. Falamos da vida difícil – felizmente ela mora em casa própria por lá – mas os clientes rareiam, o isolamento idem, o dinheiro nem se fala.
Combinamos que numa vinda a São Paulo ela finalmente conheceria a Beck’s e que ela me levaria ao CTN. Perguntei se lá havia espaço kids para as crianças. Ela riu e disse que a avó cuidaria delas. Quanta irresponsabilidade.
De repente, o caçula, de ano e meio, interrompeu a conversa porque precisava ir para a cama e estava rebelde. Findou-se a conversa.
Trocamos o zap outra vez. São Paulo ficou gelada e o domingo e seu céu rosado foram se apagando. Mas confesso que me aqueceu a alma ser lembrado em pleno calor sergipano.