Ilha de Concreto

Num País de leitores de títulos e linhas finas – quando muito se chega ao lead de um texto no jargão jornalístico – a Ilha de Concreto segue abrindo caminho com alguns textões, muita música, reflexões, entre outros. A você, raríssimo leitor, que chega por aqui e prestigia este cronista, envio um comovido agradecimento. e o convite para divulgar aos seus contatos essa nossa aventura.

Tag: Whitney Houston

  • A tarde cai e as primeiras luzes da noite ganham espaços e cores. No Copan, vizinho de frente, as luzes nos apartamentos vão surgindo lentamente.

    Na balada jovem de um prédio vizinho ao meu, as luzes coloridas pipocam desde o final da tarde enquanto uma massa de jovens vai ocupando as salas de karaokê em, ao menos, três andares. Outra porção generosa deles parte para o roof top, talvez a atração mais legal do lugar.

    Lá embaixo, à entrada da festa, a fila dobra o quarteirão. No alto, as luzes vão sumindo sombreadas por tanta gente que chega ao cenário aos borbotões.

    Gritos aos microfones tentam cantarolar clássicos sertanejos especialmente e de outros gêneros. A fila ensaia um coro enquanto aguarda a sua vez e hora.

    Ainda na rua, os ambulantes também surgem com toda a sorte de produtos, inclusive com máquinas de cartão e cartazes com a chave PIX para facilitar a vida.

    Pego um lanche noturno numa loja perto da tal balada e de sua fila interminável. Sinto-me um intruso e lembro de uma doce figura a me sugerir que eu a levasse ali. Até onde meus olhos podem ver, não há máscaras, preocupação com Covid, pandemia, nada do gênero. Donde o combinado com minha doce lindeza é cantarmos e bebermos aqui por casa mesmo.

    De volta para casa, olhando para a balada da minha janela, charuto queimando entre os dedos, vejo que o normal está de volta e com o desejo de que tudo venha ao mesmo tempo no menor prazo. A pressa da juventude não me diz nada, senão que tenho que colocar um disco na vitrola e fumar para celebrar a noite e suas luzes. Enquanto dona morte não vem.

    Na madrugada, uma pessoa faz as vezes de Whitney Houston e me faz parar para ouvi-la cantando o tema do filme O Guarda Costas e I Have Nothing. A massa comemora o número duplo e sensacional enquanto seus urros me despertam. Ainda há muita noite pela frente. Not to me.

  • Sou um assinante da Netflix que quase não usa o serviço.

    Talvez a última vez que me peguei utilizando o streaming foi em março passado, quando assisti de um único salto a segunda temporada de Drive to Survive, sobre a temporada de 2019 da Fórmula 1.

    Daí que já era madrugada de domingo (24) e o sono rareava, apesar do frio que fazia em São Paulo. Encontrei Mystify, a cinebiografia do vocalista do INXS, Michael Hutchence.

    Eu conhecia a banda superficialmente, mas dizia-se que a fita esclareceria muitos pontos em aberto em torno da morte do sujeito. Não darei spoiller. Me surpreendi com o filme e as dores de Hutchence. Compreendi seu gesto. Fim.

    No domingo à tarde o frio não cedia e, depois de breve passagem pela padaria, que me legou alguns espirros, corri à Netflix de novo.

    Dessa vez assisti Can I Be Me, cinebiografia dedicada à cantora Whitney Houston. Novamente não darei spoiller. Digo apenas que me vi chorando trocentas vezes e que as cenas da jovem cantando numa igreja gospel, cujo coro era regido por sua mãe, Cissy Houston, são tocantes.

    À noite, em tributo aos 79 anos de Bob Dylan, revi No Direction Home, desta feita no Canal BIS. Martin Scorcese conseguiu o milagre de ficar frente a frente com o astro recluso e genial e arrancou dele revelações estupendas. Vivas ao monstro multifacetado Bob Dylan. E vem disco novo aí, para delírio do meu irmão Wagner Gueller.

    Meu projeto imediato é aproveitar a quarentena e me alimentar mais de cultura musical. Netflix: fique por perto que vou lhe usar.

  • Nos anos 90, sempre que eu ouvia a dona Whitney Houston, falecida neste domingo (12/02) que se foi, eu a chamava carinhosamente de “minha neguinha”.

    Nada pejorativo, nada disso. O que eu queria era uma mulher como ela. A chamava desse jeito porque sempre a achei absolutamente linda, com uma voz espetacular – com técnica única – e tudo o mais que uma cantora deveria ser.

    Mais recentemente, apagadas as luzes do sucesso, soube-se que ela enfrentava problemas com drogadição e uma dívida estimada em US$ 1 milhão. E pensei comigo:

    – Que merda.

    Mas não é necessário focar na tragédia da cantora. A obra fica. Eis dois bons exemplos

    You will be free now, baby!

    Anderson Passos