A tarde cai e as primeiras luzes da noite ganham espaços e cores. No Copan, vizinho de frente, as luzes nos apartamentos vão surgindo lentamente.
Na balada jovem de um prédio vizinho ao meu, as luzes coloridas pipocam desde o final da tarde enquanto uma massa de jovens vai ocupando as salas de karaokê em, ao menos, três andares. Outra porção generosa deles parte para o roof top, talvez a atração mais legal do lugar.
Lá embaixo, à entrada da festa, a fila dobra o quarteirão. No alto, as luzes vão sumindo sombreadas por tanta gente que chega ao cenário aos borbotões.
Gritos aos microfones tentam cantarolar clássicos sertanejos especialmente e de outros gêneros. A fila ensaia um coro enquanto aguarda a sua vez e hora.
Ainda na rua, os ambulantes também surgem com toda a sorte de produtos, inclusive com máquinas de cartão e cartazes com a chave PIX para facilitar a vida.
Pego um lanche noturno numa loja perto da tal balada e de sua fila interminável. Sinto-me um intruso e lembro de uma doce figura a me sugerir que eu a levasse ali. Até onde meus olhos podem ver, não há máscaras, preocupação com Covid, pandemia, nada do gênero. Donde o combinado com minha doce lindeza é cantarmos e bebermos aqui por casa mesmo.
De volta para casa, olhando para a balada da minha janela, charuto queimando entre os dedos, vejo que o normal está de volta e com o desejo de que tudo venha ao mesmo tempo no menor prazo. A pressa da juventude não me diz nada, senão que tenho que colocar um disco na vitrola e fumar para celebrar a noite e suas luzes. Enquanto dona morte não vem.
Na madrugada, uma pessoa faz as vezes de Whitney Houston e me faz parar para ouvi-la cantando o tema do filme O Guarda Costas e I Have Nothing. A massa comemora o número duplo e sensacional enquanto seus urros me despertam. Ainda há muita noite pela frente. Not to me.