Voltei em sonho ao Partenon e para um tempo estranho na casa da rua Alcindo Guanabara, em Porto Alegre.
Ingressei no quarto hoje ocupado por minha mama e fui à janela. Era uma manhã de sol e flagrei umas seis ou sete crianças no pátio vendendo balas e doces. Olhei para trás, flagrei minha avó materna, dona Diamantina, e a questionei daquela gurizada no pátio.
“Tu já tinha visto isso?”
Minha avó, sempre zelosa da casa, no entanto, sequer reagiu. Saí ao pátio e coloquei todo mundo pra correr. Pularam o muro para fora incrédulos da minha reação.
Minha avó veio logo atrás mas, sem mudar o tom de voz, dizia conformada.
“Deixa os guri (sic). Estão sempre por aí”.
Voltei para dentro de casa e um tête a tête me aguardava. Encontrei meu padrasto, com quem falo o básico há anos dado que ele é um fervoroso defensor de Silas Malafaia e sua trupe, povo que eu quero ver empalado por grandes cruzes giratórias na maior velocidade possível.
Na conversa, meu padrasto me indagava porque meu irmão Everson Passos o tratava tão mal. Donde fui avassaladoramente sincero:
“Não tente ganhar meu irmão. Ele te odeia. E não é pouco. Esqueça”.
De repente, em outro cômodo, surgiu meu pai. Outro tête a tête. Meu velho estava sem entender muita coisa, mas o caso é que se sentia incomodado. Apanhei-o pelas mãos, sentamos frente a frente em dois bancos e lhe disse que estava tudo bem. Seus olhos verdes brilhavam arrebatados.
Momentos depois, eu, meu padrasto e minha mãe embarcamos no gol vermelho do meu padrasto. Pegamos uma estrada e ele prometia nos levar à praia. Indaguei:
“Sabe o caminho?”
“Não”, respondeu ele entre risos.
Fomos parando de acesso em acesso e o sonho acabou sem que víssemos o mar, como desejado.