Ilha de Concreto

Num País de leitores de títulos e linhas finas – quando muito se chega ao lead de um texto no jargão jornalístico – a Ilha de Concreto segue abrindo caminho com alguns textões, muita música, reflexões, entre outros. A você, raríssimo leitor, que chega por aqui e prestigia este cronista, envio um comovido agradecimento. e o convite para divulgar aos seus contatos essa nossa aventura.

Categoria: Histórias

  • Dia difícil esta quinta-feira (16): de uma só vez se despediram do caminho Washington Rodrigues, o Apolinho, notável torcedor do Flamengo, o italianíssimo e doce Antero Grecco e um dos pais da matéria Silvio Luiz.

    Não os conheci pessoalmente. Mas a saída do trio de cena nos deixa mais pobres como País.

    Reza a lenda que Apolinho, que já treinou o clube do coração numa aventura à la João Saldanha (que treinou o Botafogo), emburrado ao acompanhar um jogo ruim como repórter de campo, apanhou a bola e entrevistou a maltratada do dia. Criatividade pura.

    Antero Grecco passou por diversos jornais, quando estes dedicavam páginas e ais páginas ao esporte bretão. Mas no SportCenter, na ESPN, ladeado do Paulo Amigão, formaram a dupla que nos fazia felizes a cada fim de noite.

    Com o diagnóstico, Antero compartilhava suas memórias de infância, do Palmeiras ou do Palestra Itália. Dizia até de seus medos. Comentei muitos desses textos, dizendo da minha torcida pela sua recuperação. E ele, generoso que só, agradecia e trocava ideias com este modesto desconhecido.

    Já Silvio Luiz marcou minha infância com seus bordões e divertidas narrações. Jogo ruim não significava mau tempo. Um lance fácil desperdiçado era a deixa para um riso largado, irônico, maravilhoso.

    Se nem isso funcionasse, bastava a câmera perseguir um desdentado na plateia, uma senhora, um outro com seu rádio de pilha na arquibancada que a criatividade do locutor saltava aos olhos.

    Sua parceria na Band com Flavio Prado, Silvio Lancelotti e Giovani Bruno no campeonato italiano era um clássico dominical, revezado com vitórias do Ayrton Senna na Globo.

    Era um Carecone pra cá, um Alemão pra lá e o monstro Maradona no Napoli, a estufar as redes do guarda metas Walter Zenga, arqueiro do Milan, que na voz do Silvio Luiz parecia ser dono de grife.

    Saudades deste escrete de craques que nos deixa órfãos de sua grandeza, graça, criatividade e profissionalismo sem par neste 2024. Um abraço imenso aos familiares e amigos desses gigantes que estão nos deixando.

  • Cobri um evento externo para um cliente recentemente. O primeiro dia foi tão tranquilo que fui dispensado de estar lá no segundo dia de trabalhos.

    No entanto, de última hora, voltei ao evento. Corri ao banho, fiz telefonemas e, com o Mal de Parkinson se encorpando, não consegui sequer chamar um aplicativo na tela do celular, tamanho o meu tremor.

    O caso é que peguei ônibus e consegui chegar, esbaforido e cansado. Fui acalmando lentamente.

    Na hora do almoço, e aqui chego onde desejava, me estendi no trabalho e acabei me dirigindo a um Mc Donalds, localizado na Rua Teodoro Sampaio, zona oeste de São Paulo.

    Lá, a doce atendente Karina me ajudou a comprar meu lanche num totem. Fez mais, até porque expliquei meus tremores: ela levou o lanche numa bandeja até a mesa em que escolhi para consumi-lo. A jovem foi de uma doçura que tenho experimentado com muita compreensão por quem me vê chacoalhando em diferentes graus.

    À Karina, do MC Donalds da Teodoro Sampaio, envio meu mais gracioso agradecimento.

    Tremendo ou não, seguimos.

  • Havia alguns anos que não falava com meu amigo de infância, Evandro Corrêa, ex-polícial militar e atualmente advogado trabalhista radicado em Santa Catarina.

    A deixa para o reencontro, no entanto, iniciou-se tensa: meu velho amigo compartilhou a notícia falsa que o SBT veiculou sobre barreiras supostamente impostas às doações para os atingidos das enchentes no Rio Grande do Sul. Tentei apontar de que a notícia era falsa e, sem convencê-lo no inbox de uma rede social, apanhei o WhatsApp do meu velho amigo para tentar explicar a real situação.

    Falamos não só da fake news, de política, de fé, do nosso tempo de infância e adolescência, um reencontro e tanto que tomou doses generosas de mensagens de áudio e a promessa de um reencontro no sul, em Santa Catarina e até mesmo em São Paulo.

    Fiquei ´especialmente feliz e comovido quando ele me contou que a esposa Adriana, sapecou um “mídia”, bem pausado, uma gíria nossa de adolescência para sugerir que alguém precisava de atenção.

    Evandro me falou do filho que perdera tudo em Canoas e o pus em contato com a Valesca Nunes, meu braço direito nos cuidados com minha mãe no sul. Nessa ponte, Valesca, às lágrimas, me informou que nossa ideia de dar suporte às famílias impedidas de sair de casa ou sem condições de ir ao banco ou ao supermercado havia crescido de tal forma que a casa dela, no Partenon, praticamente se tornara um QG de ajuda às vítimas.

    Generosa, Valesca Nunes me emprestou crédito que não mereci. Ah, Evandro e Valesca vão se somar na rede de apoio. E que felicidade me toma ao escrever isso.

    Oxalá essa união que faz a força siga muito forte. Nossos familiares, amigos e as tantas vítimas precisam muito. Oremos.

  • Como revelado nesta Ilha de Concreto, tenho me deparado com muitos irmãos e amigos na linha de frente das enchentes no sul.

    Os relatos que tenho recebido – ainda sem que as águas tenham baixado de todo e nem há perspectiva disso ocorrer proximamente – trazem histórias de resgates, mas – sobretudo e infelizmente – de horror.

    Um horror tal que não é raro ouvir do lado de lá do telefone ou dos áudios recebidos via WhatsApp o sobressalto dramático de gente forte, gente de luta, que de repente se veem às lágrimas. De soluçar em muitos casos.

    Tenho chorado com eles toda vez que áudios assim me chegam. Abri mão de minhas caminhadas aos finais de semana e, quando em vez, à noite, para ser escuta deles. Para que eles tenham uma janela para desabafar. E se fortalecer, quem sabe.

    Meus nervos ainda estão no lugar, embora o sono não esteja lá grande coisa desde que esta crise explodiu, Mas temo pelos nervos desses heróis anônimos, amigos e amigas do coração, verdadeiros irmãos, que estão na linha de frente.

    Aos mais abalados, eu tenho orientado e ficar ao lado da família por mais tempo para recarregar energias. Tenho dado essa sugestão porque, sabemos, a tragédia ainda não revelou toda a sua magnitude e o Rio Grande do Sul precisará de apoio contínuo de todos por, ainda, muitos meses e até anos.

    Aos heróis do Partenon, em Porto Alegre, fica aqui o meu tributo. Do meu lado, se dinheiro está em falta, já mobilizei esforços para cavar roupas quentes e outros itens para enviar ao sul. Reuni três sacolas que trazem roupas de inverno, cobertor, roupa de cama, calçados, entre outros itens,

    Oxalá ninguém vai soltar a mão de ninguém.

    Exceto, claro, àqueles que têm criado e compartilhado fake news. A estes, aos parlamentares de extrema direita em especial, desejo que se afoguem lenta e impotentemente no mar de merda que estão produzindo na internet e em suas falas tão absurdas quanto mentirosas.

    Seguimos.

  • Desde que vim morar em São Paulo há 16 anos, nunca deixei de enviar um presente para minha mãe, Sandra Laufer Passos, no dia delas.

    A tragédia no sul sobrecarregou logisticamente a cadeia de suprimentos das lojas e os Correios, felizmente, entraram em campo para fazer chegar os donativos às vítimas da catástrofe das enchentes no Rio Grande do Sul.

    Me vi obrigado a improvisar minha logística para fazer chegar água à minha mãe. Jackson Lopes, meu irmão, fez a frente e ainda no sábado (11), fez chega quatro galões de seis litros à nossa casa no Partenon.

    Em outra frente, Valesca Nunes levou cortes de carne, água, frutas e outros mantimentos para minha velhinha que, neste domingo, se presente não receberá, ao menos poderá se alimentar dignamente no seu Domingo das Mães.

    Meu presente vai, desta vez, recheado de solidariedade e de agradecimento a estes dois irmãos aqui citados, que junto da minha irmã Vera Lúcia Passos da Silva, levam à minha mama um pouco de calor ao seu coração em meio a tanta tragédia.

    Oxalá, no ano que vem, possamos celebrar esta data com o coração mais leve.

    À minha mãe e a todas as mães – as que aqui permanecem e às que viraram estrelas – o meu abraço e minha mais amável celebração.

  • Já escrevi aqui nesta Ilha que meu irmão Jackson Lopes está na linha de frente de socorro no sul. Acompanhando de amigos empresários e da esposa Keitiline Viacava, ele tem feito um roteiro sem par para conseguir água e outros donativos para os atingidos pela maior e mais brutal enchente da história do Rio Grande do Sul.

    Ele pega uma caminhonete, sai de Porto Alegre e vai a Sombrio (SC) ou qualquer outra cidade de Santa Catarina e volta ao RS com os mantimentos, que entrega em Canoas, Porto Alegre, onde for possível, direto nas mãos dos flagelados. Coisa de gigante.

    E neste sábado (11), ele me mandou mensagem no começo da manhã e sapecou:

    “Estou levando água para a tua coroa”.

    Eu reafirmo: Jackson Lopes não é só um amigo. É um irmão generosíssimo que jamais conseguirei agradecer e retribuir à altura.

    Mas eu falava de porto seguro no título e dia desses tive uma espécie de encantamento. Minha amiga de muitos anos do Partenon, Valesca Nunes, entrou em campo como aqueles centroavantes que você coloca no time de futebol para resolver a partida em jogo encardido.

    Tivemos uma conversa permeada de lágrimas. Lembramos do Marcelinho, irmão dela que perdemos há 28 anos, da avozinha que morava com elas, do pai Djalma, um festeiro incorrigível (ainda bem e seja louvado sempre), Valesca me detalhou o contexto da saída de cena da dona Reni, mãe dela, que foi encontrar o Marcelo recentemente.

    A voz dela embargou muitas, muitas vezes e minhas lágrimas desceram aos borbotões na medida em que eu a ouvia.

    Pedi que ela me ajudasse no socorro à minha mãe no alto do Partenon, em Porto Alegre, porque minha velhinha desejava comer um corte de carne, qualquer que fosse, coisa que não ocorria há vários dias por conta do racionamento e ganância daqueles que foram ao supermercado, encheram seus carrinhos e mandaram um belo foda-se aos demais que ficaram sem nada.

    Falamos das saudades deles, do título que a avó dela me deu de “amigo do Marcelo” quando me reviu depois de muitos, muitos anos – ela já com problemas de memória.

    O que mais me emocionou foi a emenda da Valesca dizendo que eu sou “o amigo do Marcelo que se tornou meu amigo”. Com essa ela me “quebrou as pernas” e chorei largado – ela só vai saber agora, ao ler este escrito.

    Pois lá foi a Valesca e comprou os mantimentos que faltavam à minha mãe e que chegarão a ela na manhã deste sábado, Oxalá, um dia mais do que iluminado, portanto.

    Ainda sobre minha doce amiga: brincamos em meio à desolação no sul. Rememoramos as festas que fizemos na casa dela em muitas viradas de ano e nos comprometemos a reencontrar os nossos do lado de lá e cobrar deles festa ainda mais animada à nossa chegada- com direito a beijo roubado meu numa tia dela que eu não lembro de ter dado (estava louco de cerveja) – e que deu belo e rotundo bafafá.

    A estes dois enormes irmãos, o meu tributo emocionado às pampas e pelos pampas. Vivas e muita saúde a estes dois valentes. O Dia das Mães da dona Sandra Laufer Passos será diferente em 2024. Será muito mais recheado de amor e solidariedade do que em outros anos, com absoluta certeza.

  • O pior ainda está por vir no Rio Grande do Sul, infelizmente. Quando, em algum momento, as águas baixarem, a dimensão dos estragos e das vítimas será escancarada.

    Meu irmão Jackson Lopes vem liderando um grupo de empresários gaúchos em Porto Alegre visando a compra de mantimentos e a entrega direta de mantimentos às vítimas.

    Ele e outros tantos me contam que o cheiro de morte já pode ser sentido no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Também revelam que as embarcações que conseguiram ingressar no município de Canoas, um dos mais devastados, já conseguem flagrar famílias inteiras mortas em suas casas ou veículos de fuga.

    Eldorado do Sul, ao lado de Porto Alegre, foi praticamente varrida do mapa pela tragédia.

    O Katrina gaúcho ainda nos trará cenas tremendamente fortes e dramáticas. A quem puder ajudar, faço meu apelo. E um enorme voto de câncer no cérebro e outro anal – para garantir – a todos os filhos da puta que estão compartilhando mentiras e boicotando a ajuda `às vítimas consequentemente.

    Por fim, oremos por aqueles que perderam suas vidas e suas casas.

  • Dois Irmãos é uma cidade da Serra Gaúcha que foi atingida pela enchente que assola aquele estado. Ao que se sabe, sofreram com evidentes danos materiais.

    Eu e meu irmão Jefferson Marcanth, que está em Pelotas, na zona sul do estado, estamos com linha aberta no celular e nos indagamos sobre outro irmão: o Alexandro Souza, o Rambo.

    Inicialmente, eu não sabia se o nosso eterno Alex estava em Sapiranga ou Teutônia. Daí que contatei minha irmã Vera Lúcia Passos da Silva e ela soltou o grito no pátio vizinho. Entrou em campo a Evelena Salgado Rodrigues, vizinha de muro da casa onde vivi no Partenon. E conseguimos, aliviados, localizar o Alex e ouvi-lo e falar com ele.

    Felizmente está com saúde, ainda que isolado em Dois Irmãos. Alexandro Souza lamentou, entre longos suspiros, que queria ver a mãe, mas não havia como cruzar a região até Porto Alegre, onde está a tia Tânia.

    Disse ao meu mais longevo irmão – Alex é o primeiro amigo que fiz na vida e isso me dá muita alegria e orgulho – que embora não conseguisse ajudar com grana ou mantimentos, lhe lhe daria escuta como ajuda, em qualquer tempo.

    Na troca de áudios, meu irmão citou a filha mais nova – que eu já vi em fotos na internet e é de uma comovente lindeza – e tenho certeza que chorou ao me dizer dela. Chorei com ele e lembrei que na nossa infância ficávamos horas em conversas no muro de casa.

    Irmão, agora o nosso muro é uma distância de milhares de quilômetros, mas nem por isso menor. A tecnologia é nossa aliada, irmão e há de nos juntar novamente.

    Força e conte comigo para sempre.

  • Mal dormi. A ansiedade me abraça e nem minha cannabis medicinal dá conta. Mas o caso é que precisava escrever e, como fiz por noites adentro ao longo dos últimos anos, cá estamos.

    Voltarei alguns anos no tempo, a título de introdução. Há quase 28 anos um acidente de carro levou o caçula da nossa turma do Partenon, Marcelo da Silva Nunes.

    Antes de morrer, Marcelinho, como carinhosamente o chamávamos, pediu para o Marcio Barbosa atar o cinto de segurança no banco da frente. Não era obrigatório naqueles dias como, felizmente, se tornaria tempos depois.

    Marcelinho não afivelou o seu no banco atrás do motorista. O carro capotou e ele sofreu traumatismo craniano severo. Na ambulância que o socorrera para o Hospital Centenário, de São Leopoldo, meu irmão Sandro Leite lhe apertava a mão para impedir que nosso amigo se fosse.

    No dia seguinte, outros irmãos Jackson Lopes e Renato Farias me comunicaram que nosso parceirinho fora ressuscitado pelos médicos enquanto eles o visitavam. Lembro do Jackson, olhos rútilos, levando às mãos ´à cabeça com essa notícia.

    Eu e Jefferson Marcanth, que passou a ser o caçula da turma com a saída de cena do Marcelinho, nos aproximamos demais nessa crise. E posso apostar que, mesmo de longe, nunca nos abandonamos, qual fosse a situação.

    Volto aos dias de hoje ou à noite passada. Na crise do que chamo de “Katrina gaúcho” fui colher notícias no sul de como estavam meus familiares e amigos ao telefone. Acabei não podendo ir caminhar à noite, com tantos relatos.

    Minha mãe e irmã, por exemplo, estão há dias sem água, mas com energia elétrica ao menos. E seguras, felizmente, já que estão no alto do Partenon, na zona leste de Porto Alegre. Mercadinhos e até o velho Zaffari têm problemas de estoque de produtos. Falta água.

    Meu primo Luis Fernando, que mora no litoral norte, revelou que o movimento em Cidreira era de alta temporada. A praia virou rota de fuga para muitos que tem casa. E mesmo para quem não tem morada alguma na praia. Muitos aguardam ajudam na colônia de férias da Brigada Militar.

    Na Serra Gaúcha, meus irmãos Gabriel Izidoro e família e João Victor de Oliveira, este último após dez horas de viagem, estão refugiados e aparentemente seguros.

    Em Porto Alegre, Patrícia Meira está com a mãe internada. A situação é complexa e rezo por elas. Minha guaibeira das antigas, Fabiane Moraes, também é um tanto meu porto seguro, feliz que estou que ela está a salvo.

    Na capital, Alessandro Varela, José Fernando Cardoso, da Unisinos para a vida, seguem na luta bravamente, assim como meu irmão Luis Eduardo Oliveira da Silva, que me narrou em detalhes os horrores da enchente em suas saídas de carro pela cidade. Luisinho e uma de suas filhas atuam juntos na área de saúde. Estão, eles sabem, entre meus heróis dessa tragédia.

    Minha prima Gisele e sua mãe Dalva aguardam cirurgia de retirada de vesícula da Gi num hospital da zona norte. Sem água e comida – a cozinha foi desativada e os pacientes se alimentam de marmitas – não se sabe quando o procedimento ocorrerá.

    Do lado de casa, no Partenon, Evelena Rodrigues, a quem agradeço, cuida dos seus e da minha mãe e minha irmã também. E lhe sou e serei grato eternamente.

    Por São Paulo, gente de ontem e de hoje me abraça entre preocupada e disposta a ajudar, qual seja a forma. Cito Mariana Ghirelo, que pegou dengue e que mesmo assim me enviou mensagens de apoio. Gláucia Milício, a minha eterna Glau Gadot, a ausente mais presente da minha vida. Até a ruiva Marina Diana que, inesperadamente, me procurou e me aqueceu o coração.

    Henrique Veltman e às famílias Gueller e Gutierres, que hoje são minha família, me procuram full time para saber notícias. Os Garotos da Javari e meu colegas de trabalho, que me veem tremendo pelo Parkinson a cada almoço – cenário agravado pela crise no sul – também merecem crédito.

    De Santa Catarina, Simone Lemes, amor de uma juventude feliz, me apoia. Nos apoiamos, na verdade. De Fortaleza, no Ceará, a doce Aline Carlos me ajuda com a nossa indefectível Rádio Clube dos Deprimidos, que me faz um bem danado, pasmem.

    Falarei da turma que abriu este escrito.

    Valesca Nunes, vizinha da Batista Xavier, irmã do Marcelinho, citado no começo deste escrito, segura a bronca de cuidar da casa e da própria mente em voo solo – Dona Reni, a mãe admirável, se foi neste ano.

    Marcio Barbosa conseguiu refúgio para si e seus familiares, ele que ficou com água pela cintura mesmo a bons metros do Guaíba na zona sul da capital.

    Na zona sul do estado, Sandro Leite e Jefferson Marcanth atuam como voluntários. Meu irmão Jackson Lopes reuniu empresários e comprou e distribuiu mantimentos para quem nada tinha.

    Meu irmão Leandro Luz está na luta também seja em Sapucaia do Sul, seja onde for, pois que o dever de salvar, eu sei, lhe é caríssimo

    A todos e aos heróis aqui citados, e mesmo aos não citados pela minha memória insone e fraca, a minha homenagem mais singela e emocionada. Força a todos e que, Oxalá, essa crise vá embora com a mesma velocidade com que bateu à porta das milhares de vítimas.

  • Herdei do meu pai, Emilio Bento da Silva, o pavor de abelhas. O velho sempre me dizia:

    “Se encostar em uma, vem um monte em cima da gente. Não encosta nelas de jeito nenhum”, me dizia em tom alarmista sempre.

    Lembro bem do jardim da minha avó Diamantina Laufer Passos. Logo ao acesso pela escada de entrada, as abelhas tomavam o manjericão e eu tenho pesadelos com aqueles bichos correndo em cima da nós.

    Corta para os dias de hoje:

    Moro num andar bem alto de um prédio no centro de São Paulo. E, em que pese eu já ter flagrado um “dengoso” Aedes aegypti dando rasantes em casa – o desgramado fugiu aos meus pescotapas – eis que dia desses flagrei uma abelha na janela da cozinha.

    E o meu dilema foi: passar a chinela na criança ou fazer com que ela fosse embora sem arranhões. Preferi dar um tempo.

    A bichinha tateava o vidro de cima abaixo e eu passei a ter com ela uma conversa surreal:

    “Filha, tanto céu lá fora e você aqui. Olha pra fora”.

    Talvez por 20 minutos a abelha ficou lá. E, felizmente, sem que eu percebesse, assim como ela chegou, se foi embora.

    E eu respirei aliviado.